São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Rio Grande do Sul. Corinthians, Vasco, Cruzeiro e Internacional. Hoje no Vissel Kobe, do Japão, onde viu renascer um lado mais "ousado" dentro de campo, Nilton é um dos poucos jogadores que passou em alta pelos principais centros do futebol brasileiro. No geral, obteve bons resultados e, principalmente, colecionou grandes histórias. Já rejeitou uma proposta tentadora da França, abriu mão de defender a Inter de Milão por respeito à 'Raposa', mesmo depois de ter viajado para assinar contrato, e até foi "responsável" pela mudança de clube de Dedê.
Começou usando a camisa 10 no Vissel Kobe e agora está usando a 7. Podemos dizer que virou meia?
Não, não... Sigo com as mesmas características de quando jogava no Brasil. Mas preciso confessar que, quando usei a camisa 10, fiquei mais abusado, acabei sendo mais ousado em alguns lances. Agora, com a camisa 7, dei uma segurada, fico mesmo na ligação do meio-campo e ajudo na marcação. No início, vale lembrar, cheguei a jogar até como terceiro atacante. Sempre tive facilidade de jogar na frente, era atacante nos meus primeiros anos nas divisões de base.
Se vê mudando de posição mais para o fim da carreira?
Nunca cheguei a pensar nisso, na verdade. Sempre deixei muito nas mãos dos treinadores, que sabem perceber rapidamente a minha facilidade em cumprir várias funções. Estou sempre disposto a ajudar. Aqui no Japão gostam muito de jogadores que fazem mais de uma função.
Você foi para o Japão numa época em que muitos brasileiros foram negociados com o futebol da China. Chegou a ter interesse chinês?
Tive uma oportunidade de ir para China há dois anos, mas acabei recusando. Recusei também os Emirados Árabes na mesma época. Na ocasião, optei por fechar com o Internacional [em 2015]. Vi com bons olhos a chance de fazer ainda mais nome dentro do Brasil, conquistar mais títulos. Depois veio o Japão, com um desafio novo, números interessantes... Tudo está fluindo da melhor maneira possível, apesar da dificuldade para ser campeão nacional. Sou muito feliz aqui, onde cheguei há um ano, fui bem recebido e fiz grandes amigos. Um deles, aliás, é brasileiro [Ricardo] e mora no meu prédio. É um cozinheiro de mão cheia, faz carpaccio, churrasco...
Chegou a balançar com alguma proposta ou sondagem do Brasil antes de surgir a oferta do Japão?
Sim, o meu empresário chegou a me avisar que havia surgido coisas boas do Brasil. Porém, nem quis escutar, isso porque tinha dado a minha palavra para o Vissel Kobe. Mesmo depois de fechado no Japão, alguns clubes ainda me procuraram para que eu tentasse retornar rápido para o Brasil. Assinei contrato até junho de 2018, não é tão simples assim. Já tem chegado novas situações do Brasil e até mesmo da Europa, mas por enquanto temos segurado, estamos deixando rolar. Tenho que cumprir o meu contrato, só penso nisso agora. Deixo toda e qualquer negociação na mão do meu empresário.
Prefere não acompanhar muito as negociações...
Isso. Antes de fechar com o Cruzeiro [em 2013], por exemplo, chegou uma situação concreta e interessante da França. Surgiu um dia antes de assinar contrato com o Cruzeiro. Mas também já havia dado a minha palavra, desta vez para o Alexandre Mattos [antigo diretor de futebol]. Mantive a palavra e ainda dei algumas dicas de jogadores que poderiam contribuir para o clube, como o Dedé. A contratação do Dedê foi uma das minhas indicações. Isso mostra que cumpro a palavra e faço questão de abraçar o projeto.
Já sentou para contar quantas propostas surgiram até hoje na carreira? Tem um número?
Na saída do Vasco para o Cruzeiro, apareceram outros seis clubes na jogada. Tinha Emirados Árabes, França, dois times de São Paulo, dois do Sul... Enfim, todos clubes de primeira linha. Depois, na saída do Cruzeiro, surgiram mais duas propostas.
Não pode reclamar de propostas então...
[Risos] Jamais. É fruto do trabalho duro em todos os clubes que representei, fui feliz em todos eles. Corinthians, Vasco, Cruzeiro, Internacional... Vários torcedores destes clubes ainda me mandam mensagens no Instagram, pedem a minha volta. Isso é muito bom. Estou com 30 anos, tenho mais uns seis ou sete anos no futebol. Se tiver a chance de voltar para o Brasil, perfeito. Tenho as portas abertas...
Se arrepende de ter recusado alguma proposta?
Ah... Tem uma em especial, sim. Teve uma que me deixou muito chateado, mas também sabia das consequências. Foi uma oferta da Inter de Milão, ainda na época do Cruzeiro [maio de 2014]. Os italianos já estavam atrás de mim há um ano. Houve uma conversa muito boa em Belo Horizonte, fizemos uma viagem à Itália, mas as coisas acabaram mudando na última hora. Para mim, seria tranquilo aceitar e seguir a carreira fora. Porém, para o Cruzeiro, não era interessante.
Por que a negociação não foi concretizada?
Tive grande parcela na decisão também. Não poderia dar as costas para o Cruzeiro depois de tudo o que havia feito por mim. Os três lados deveriam ficar contentes com a transferência, e não foi o caso. O negócio era muito bom para mim e para os italianos, mas nem tanto para o Cruzeiro. Era um sonho, jogar na Europa, ter a oportunidade de talvez jogar uma Liga dos Campeões... Mas abri mão de tudo isso. Não poderia agir de uma forma diferente com o Cruzeiro. A gente planta o que colhe, certo? Lembro que, depois de encerrada a negociação, disse para o Alexandre Mattos: "Vamos voltar e seremos bicampeões. Vou dar esse gostinho para os torcedores". Poucas horas depois, o Marcelo Oliveira me ligou para dizer que já estava à minha espera. No fim, ganhamos o título brasileiro de 2014 também.
Pelo visto pensa na Inter de Milão até hoje. Memória fresca...
Penso, penso... Às vezes me pego vendo os jogos da Inter de Milão. Vejo, fico pensando, aí viro a página rapidinho. Viro, mas às vezes bate um ventinho que traz a primeira página de volta [risos].
Éverton Ribeiro, Ricardo Goulart, Lucas Silva, Marcelo Moreno... Todos saíram e você acabou ficando no Brasil. Como lidou com o lado psicológico?
Batia aquela... Não é bem inveja, mas tinha aquele pensamento de que eu poderia ter tido o mesmo rumo, de que poderia ter embarcado no mesmo avião. Tive inúmeras oportunidades de ir para fora, mas o meu caminho sempre esteve nas mãos de Deus. Ainda terei novos desafios, novas vitórias e, quem sabe, jogar na Europa. É um sonho.
Ainda sobre o auge da carreira, o período vitorioso no Cruzeiro... Sentiu que faltou uma chance na seleção brasileira?
Em 2013, no meu melhor momento, estava sendo artilheiro de um time que contava com Éverton Ribeiro, Borges, Dagoberto... Então, sentia que merecia uma chance. Mas a disputa sempre foi muito acirrada, essa é a verdade. Só que faltou uma oportunidade, sim. Teria realizado um sonho e também visto aumentar a probabilidade de ser negociado com o futebol europeu.
Já pode assinar um pré-contrato com qualquer clube a partir de janeiro. Já tem planejado o futuro?
O amanhã a Deus pertence. Tenho contrato até junho de 2018, pretendo cumprir até o final. Mas também não posso fechar os olhos para o que pode pintar pela frente, né? E, logicamente, também estou disposto a negociar para renovar contrato. Vamos ver...
Aceitaria jogar por clube rival no Brasil? O "problema" é que quase todos são rivais para você, visto que passou por Corinthians, Vasco, Cruzeiro e Internacional...
[Risos] Essa pergunta é uma encruzilhada, pô! A nossa carreira é curta, a rivalidade é grande em qualquer lugar do Brasil... Tive uma identificação muito grande com todos os clubes mencionados, mas aceitaria o desafio [de jogar num rival], sim. Honrei as camisas de todos os clubes, fui muito profissional, então não teria problema.
Até mesmo o Atlético-MG?
Sim, sim... Não teria problema. Ninguém pode apagar as minhas conquistas no Cruzeiro. Corri por mim e pelos torcedores durante toda a minha vitoriosa passagem.