Chapecó é uma bonita e pacata cidade do Oeste de Santa Catarina, cerca de 550 km distante de Florianópolis, capital do estado do Sul do Brasil. Ao contrário das grandes metrópoles brasileiras, é calma mesmo às 12h ou 18h, muito limpa e também segura, com a tranquilidade de se poder andar mexendo no celular ou contando dinheiro na carteira enquanto se anda pelas calmas ruas do município.
A qualidade de vida é excelente e, realmente, como dizem em Chapecó, quem visita a cidade não quer mais ir embora.
O pacato município, porém, seria apenas mais um dos vários bons e pouco conhecidos lugares para se viver no interior do Brasil, não fosse a Chapecoense.
O Verdão do Oeste, afinal, tornou Chapecó conhecida não apenas no Brasil, mas em todo o mundo.
Da Série D do Campeonato Brasileiro em 2009 para a final da Copa Sul-americana em 2016, passando por títulos estaduais, grandes campanhas nacionais e internacionais e se firmando na elite tupiniquim, a Chape passou, do pequeno clube do interior de Santa Catarina, para um exemplo de gestão financeira e de crescimento e sucesso dentro e fora de campo para os gigantes do Brasil.
A Chape tornou Chapecó conhecida em todo o Brasil e, em 2015 e 2016, famosa e temida também na América Latina, com grandes campanhas na Copa Sul-americana, eliminando clubes tradicionais como Libertad, San Lorenzo, Junior Barranquilla e Independiente.
O mundo do futebol já se interessava pela Chapecoense, que era pauta não apenas na América Latina, mas também na Europa, em diversos veículos. Os amantes do esporte queriam saber mais sobre aquela equipe que, mesmo em uma cidade pequena e com um orçamento reduzido, conseguia desafiar quem quer que fosse, principalmente na sua fortaleza: a Arena Condá, onde o espírito do Índio Condá parecia tomar conta dos jogadores do Verdão.
A sinergia entre a cidade e o clube é única, e quem visita Chapecó logo se surpreende com a proximidade entre a população local e os jogadores, a equipe, os dirigentes e os jornalistas. A Chapecoense realmente é um time diferente.
No entanto, infelizmente, a Chape acabou se tornando pauta em todo o planeta pelo pior dos motivos em 29 de novembro de 2016, e não só dos veículos esportivos. Quem ainda não conhecia o Verdão do Oeste e Chapecó, passou a conhecer por conta de uma triste tragédia, que causou a morte de 71 pessoas e uma dor sem igual.
A cidade e o clube, diante do interesse mundial, passaram a receber jornalistas de todas as partes do Brasil e do mundo, e quase um ano após a tragédia, não é diferente.
Na última semana, a reportagem da 'Goal Brasil' esteve em Chapecó para preparar um especial que começa nesta quarta-feira (22) e vai até a próxima quarta (29), sobre o ano que se completa da tragédia e a reconstrução da Chapecoense. Durante a estadia na cidade do Oeste catarinense, a reportagem encontrou jornalistas argentinos, suecos e alemães, e o município e o clube já se preparam para a enorme demanda e os vários visitantes que irão receber nos próximos dias.
A 'Goal Brasil' inclusive aproveitou a oportunidade para conversar com Jörg Wolfrum, jornalista alemão da Kicker, que é dono de uma história bem curiosa e também passou a última semana em Chapecó, produzindo um especial sobre o Verdão do Oeste.
A Chape uniu rivais no Brasil no último ano, por conta de toda a comoção pelo acidente, e também todo o planeta, que se uniu em uma onda de solidariedade. E Wolfrum, de certa forma, simboliza essa união de rivais causada pela Chape.
O alemão possui identidade argentina e conhece vários jogadores da Albiceleste. Não à toa, ele admite ter ficado dividido na decisão da última Copa do Mundo, em 2014, no Brasil. Foi na final do Mundial, acreditem, que ele conheceu sua esposa, a brasileira Mônica, que trabalhava no serviço do bar para os jornalistas no Maracanã.
A Chape uniu rivais históricos no futebol no Brasil e no mundo, e apesar de receber as mais belas homenagens dos colombianos, também foi exaltada por argentinos. Wolfrum tem uma vida que une os rivais Brasil, Alemanha e Argentina, tantas vezes adversários em grandes clássicos e épicos da história do futebol.
E o jornalista alemão, em entrevista à 'Goal Brasil', é só elogios para a Chapecoense e Chapecó, e vê a Chape como um exemplo até mesmo para os clubes de seu país, apesar de não aprovar o nível do futebol tupiniquim. "A Chapecoense me passa a impressão de ser um clube muito bem administrado e que tem os pés no chão. Eles deixam muito claro, e as finanças e a imprensa também mostram isso, de que fazem tudo dentro do orçamento. O clube é um exemplo para o Brasil e o futebol brasileiro. Se todos os clubes trabalhassem como a Chape e o futebol brasileiro fosse assim, certamente seria ainda melhor", opina.
"Na Alemanha, o contato com o clube, essa ligação entre jornalistas, jogadores e dirigentes, se perdeu há uns 20 anos nos clubes grandes e 10 nos pequenos. É muito lindo isso que existe na Chapecoense, porque é da pureza da vida. Eu espero que continue assim. Eu não conheço um clube com laços tão estreitos assim entre clube, jogadores, dirigentes, cidade, moradores e jornalistas", completa.
"Vi outros jogos no Brasil além de partidas da Chapecoense. Também acompanhei partidas do Vasco e de outras equipes no Maracanã e pela televisão, e o Brasileirão não me convence. O nível é muito fraco. Os melhores jogadores brasileiros estão jogando na Europa e o nível da Série A, do ponto de vista internacional, não é alto. Eu colocaria o Brasileirão no segundo ou no terceiro nível", analisa.
"Gostei muito de Chapecó. É uma cidade muito tranquila. Caminhei de noite sem sentir insegurança e fiquei muito tranquilo na cidade, ao contrário do que aconteceu no Rio de Janeiro. A vida em Chapecó é bem parecida com a vida na Alemanha. Chapecó é muito limpa também, quase não tinha lixo na rua, e fiquei impressionado com as construções que serão feitas na cidade, que parece estar crescendo", observa.
No entanto, mesmo com a impressionante reconstrução da Chapecoense, que terminará 2017 campeã estadual e garantida na Série A do Brasileirão da temporada seguinte, como foi em 2016, a tragédia ainda dói, e sempre irá doer.
Obviamente, Chapecó e sua população, pela proximidade única da cidade e seus moradores com o clube, sentiu mais o baque, mas todo o planeta chorou as 71 perdas. Com Wolfrum, na Alemanha, não foi diferente, e uma triste coincidência não sai da cabeça do jornalista germânico.
"O curioso é que no mesmo dia da tragédia, a Kicker queria fazer uma matéria sobre o futebol brasileiro, porque era novembro e estávamos no fim da temporada brasileira. A ideia era fazer um resumo do Brasileirão e também do desempenho dos clubes brasileiros nos torneios continentais", conta.
"Inclusive, já estávamos pensando em fazer um especial sobre a Chapecoense, porque era um pequeno clube brasileiro que estava na final da Sul-americana e iria disputar a Libertadores no ano seguinte, o que é raro, já que só os grandes clubes brasileiros vinham disputando a Libertadores nas últimas temporadas. Curiosamente, justamente neste dia, aconteceu a tragédia e mudou totalmente o nosso foco e a pauta. Lamentavelmente, tivemos que escrever sobre a Chapecoense com um foco diferente", lembra.
"A tragédia da Chapecoense chegou a ser uma das notícias principais em todos os noticiários da Europa. Depois, quando ficou claro que dentro do avião estava um time que desapareceu com quase toda a sua diretoria e o elenco, a comoção foi ainda maior pelo toque de tragédia das 71 pessoas que faleceram e o time que se foi. O choque foi tão grande que a Chape foi uma notícia enorme não apenas nos noticiários de esporte, mas em todas as editorias na Europa. Eu estava na Alemanha e me lembro que ouvi isso pela primeira vez no rádio, às 7h", completa.
"Eu fiquei muito triste. Não conhecia muito a Chapecoense, mas por escrever sobre futebol internacional, sul-americano, a Libertadores e a Sul-americana, conhecia um pouco e já tinha ouvido falar, então fiquei muito chateado por isso e, claro, como amante do futebol. Era uma grande história, um pequeno time brasileiro estava na final da Sul-americana e no ano seguinte disputaria a Libertadores", lamenta.