Eles tiraram a sua camisa e depois suas chuteiras. Eles queriam tudo, até seus calções e meias. Eles eram seus adversários, aqueles que haviam acabado de derrota-ló. Mas eles também eram fãs desesperados por lembranças de seu ídolo.
O Atlético-MG de Ronaldinho Gaúcho tinha acabado de ser eliminado no Mundial de Clubes pelo Raja Casablanca. O jogador, que na época tinha 33 anos, estava sentido, era a última oportunidade de conquistar o título que lhe faltava. Apesar disso, ele escondeu a dor por trás do sorriso, o sorriso que definiu seu legado.
"Desde a minha infância, o meu sonho era ver o Ronaldinho pessoalmente". disse Kouko Guehi, do Raja. O tempo todo, Guehi comemorou a classificação coberto com a camisa mais procurada de toda Marraqueche.
Nesta semana, de Nova York a Barcelona, de Tóquio a Joanesburgo em todos os lugares do mundo, os apaixonados por futebol estão recordando os momentos que Ronaldinho proporcional ao esporte mais popular do mundo, o craque, através de seu irmão confirmou a sua aposentadoria dentro das quatro linhas.
A história começou em 1999, poucos dias antes da Copa América, num amistoso contra a Letônia. Usando a camisa 7, ele disputou os 90 minutos. O garoto já havia impressionado nas divisões de base, conduzindo o Brasil ao título do Mundial sub-17, dois anos antes. Mas naquele momento, ele estava atingindo o grande momento.
Ele começou no banco em todos os três jogos da fase de grupos da Copa América do Paraguai e anotou seu primeiro gol na vitória por 7 a 0 sobre a Venezuela, dando um espetacular chapéu no zagueiro José Manuel Rey, antes de volear um balaço na meta de Renny Vega.
Semanas antes ele tinha protagonizado outro grande lance, dando um belo drible em icma de Dunga em um clássico entre Grêmio e Internacional, humilhando o veterano campeão do mundo com um eslástico impressionante.
O jovem atleta teve apenas mais uma participação na fase eliminatória da Copa América, entrando na vitória por 2 a 0 do Brasil sobre o México na semifinal. Mas seu lance contra a Venezuela foi o grande destaque da competição e precisamente o momento em que anunciava a sua chegada no cenário do futebol mundial.
Com o já consagrado Ronaldo na equipe, o recém-chegado assumiu o diminuitivo e adotou oficialmente o nome de Ronaldinho Gaúcho, como os torcedores cantavam "Gaúcho, Gaúcho", ressaltando as suas raízes de Porto Alegre.
Meses depois, Ronaldinho Gaúcho foi convocado para disputar a Copa das Confederações no México. Ele anotou um hat-trick e marcou em uma vitória por 4 a 0 sobre a Alemanha. Apesar disso, não conseguiu salvar o Brasil de uma derrota para os japoneses, que acabou eliminando a Canarinho da competição. Embora a Seleção não tenha faturado uma medalha, o garoto faturou a bola de ouro como o melhor jogador do torneio e a chuteira de ouro pelos seus seis gols.
Os meses seguintes foi de crise, pois o Brasil encontrava dificuldades para garantir vaga na Copa do Mundo. Luiz Felipe Scolari tornou-se o quarto treinador da Seleção em um período considerado curto e as expectativas estavam bem baixas.
Ninguém esperava que a Seleção levasse o quinto título mundial quando a equipe chegou à Japão / Coreia do Sul para a Copa do Mundo de 2002 e ainda levaram um golpe esmagador após o corte do capitão Emerson que havia se lesionado durante o treino.
Mas Scolari havia trabalhado a união e formou a famosa "Familia Scolari". Ronaldinho fez parte dos três R com Rivaldo e Ronaldo, que mal havia chutado uma bola dois anos antes do torneio.
Ronaldinho estrelou sua primeira aparição na Copa do Mundo, particularmente nas quartas de final contra a Inglaterra. Ele partiu em velocidade passando por Ashley Cole e tabelou com Rivado, antes do gol sob David Seaman. Depois, em um deslumbrante lance de longa distância anotou a virada por 2 a 1 garantindo a classificação brasileira.
Ronaldinho perdeu a semifinal depois de ter sido expulso, mas voltou na grande decisão para ajudar o Brasil diante da Alemanha.
O Mundial colocou Ronaldinho como um dos jogadores jovens mais promissores do mundo. Mas, apesar do interesse dos maiores clubes da Europa, ele ficou no Paris Saint-Germain na temporada seguinte.
Depois, em outro ciclo da Seleção, já sob o comando de Carlos Aberto Parreira, Ronaldinho ficou de fora da Copa América de 2004, enquanto uma equipe alternativa conduziu a Seleção em sua sétima taça sul-americana. Ele retornou na Copa das Confederações de 2005, já nomeado o melhor jogador do mundo pela FIFA, graças a suas deslumbrantes performances com o Barcelona, depois da transferência do PSG.
Seria o primeiro grande torneio em que Ronaldinho Gaúcho usaria a camisa 10 da Seleção. Depois de passar pela Grêcia, uma derrota por 1 a 0 diante do México deixou o Brasil precisando de um resultado contra o Japão.
Ronalinho usava a braçadeira de capitão e criou a jogada do gol de Robinho antes de marcar para o Brasil no empate em 2 a 2 com os japoneses. Ele também balançou as redes na emocionante vitória sobre a Alemanha, na semifinal.
Contra os argentinos, na grande decisão, o Brasil teve uma atuação de gala anotando 4 a 1 sobre os alemães com o show de Adriano Imperador, em Frankfurt. O camisa 10 levou o prêmio de bronze, como o terceiro melhor jogador do torneio.
Outra vez o melhor jogador do mundo, Ronaldinho Gaúcho se apresentou com a Seleção para a Copa do Mundo de 2006. Na ocasião, todos apontavam o craque como unanimidade ao prêmio de melhor jogador do planeta. Alguns diziam até que o atual camisa 10 seria melhor que Pelé.
Mas não foi. O desejo de Parreira em contar com o quarteto fantástico formado por Ronaldinho, Adriano, Ronaldo e Kaká deixou o Brasil pesado em campo desde o início.
Ronaldinho desapontou, não foi nem sombra do craque do Barcelona e o Brasil acabou eliminado nas quartas de final pela França de Zidane. Seria o último grande torneio que Ronaldinho Gaúcho jogaria pela Seleção.
Dunga se tornou o treinador após o Mundial da Alemanha e depois de pedir para descansar da Copa América de 2007, Ronaldinho foi acionado para ajudar o Brasil nos Jogos Olímpicos de 2008, onde acabou faturando a medalha de bronze, depois, ficou de fora da Copa do Mundo de 2010.
Até então sua carreira estava em rápido declínio. Depois que seus excessos fora de campo fizeram com que Pep Guardiola o dispensasse do Barcelona. Ronaldinho nunca mais alcançaria a altura de tudo o que havia alcançado anos antes.
Em 2011, voltou para o Brasil para defender o Flamengo. Mas no Rubro-Negro, os excessos fora de campo se tornaram ainda maiores, atrapalhando até a sua relação com a torcida. O camisa 10 se alternou entre lampejos no campo e as noitadas no Rio de Janeiro.
Ronaldinho voltou para a Seleção com Mano Manezes, mas não fez a diferença na Copa América 2011. Houve alguns pedidos pelo atleta na Copa do Mundo de 2014 depois de ter encontrado boa forma com a camisa do Atlético-MG e conduzido o Galo na conquista da Copa Libertadores da América. Apesar disso, nunca esteve perto do grupo que disputaria o Mundial do Brasil.
"Deus dá presentes a todos", disse ele em 2005 depois de ser coroado o melhor jogador do mundo pelo segundo ano seguido. "Alguns podem escrever, alguns podem dançar. Ele me deu a habilidade de jogar futebol e estou aproveitando ao máximo".
E não aproveitou ao máximo. Pelo menos ele não fez mais do que esses poucos anos de Barcelona, mas Ronaldinho é um amante da vida, talvez mais do que qualquer outra coisa, ele nos lembrou que o futebol é uma perseguição que deve ser apreciada. Foi isso que o separou. Sim, ele deveria ter conseguido mais. Mas ele nos deu tanto. Como nos atrevemos a pedir mais?
Ele destruiu as melhores defesas do mundo com dribles, elásticos e muita habilidade. Ele brincou de jogar futebol, as vezes nem sequer olhava para a bola ao passar por um adversário. Ele se tornou uma fabrica de chapéus.
Suas melhores exibições não foram com a camisa amarela. Mas alguns lances pela Amarelinha também ficaram eternizados na memória dos brasileiros. Não foram as medalhas de Copa do Mundo, Copa América e Champions League que conquistaram os corações dos jogadores do Raja. A metade deles provavelmente não poderiam nomear todos os feitos que ele reivindicara, nem mesmo o clube onde sua carreira começou.
Mas eles não se importavam.
O legado de Ronaldinho não é sobre o que ele fez, mas sim como ele fez.