"Um pouco irritante". Assim Jurgen Klopp definiu recentemente Roberto Firmino dentro de campo.
O camisa 9 do Liverpool, de fato, não tem dado sossego aos adversários nos últimos meses, até por isso acredita que vive a melhor fase da carreira, graças também por ser dirigido por um treinador alemão "muito estrategista".
Apesar de ser a referência de um time marcado pela ofensividade e também da proximidade de assumir o posto de maior artilheiro brasileiro da história da Premier League, o atacante não inveja o companheiro Salah, hoje goleador isolado da competição, com 28 gols. Juntos, e ainda com a parceria de Mané, têm minimizado com sucesso a saída de Philippe Coutinho.
"Garantido" na Copa do Mundo, temporada com mais gols, Liverpool bem... Vive a melhor fase da carreira?
Sim, é a melhor fase da minha carreira. Estou feliz porque as coisas estão acontecendo de uma forma muito positiva na minha vida, no lado pessoal e também no lado profissional. A boa fase da nossa equipe ajuda muito também, o time está muito bem encaixado. O Klopp é muito estrategista, um grande treinador.
Philippe Coutinho é o brasileiro com mais gols na história da Premier League: 41. Você, com 35 no momento, tem como meta ultrapassá-lo?
Não me prendo a isso. Só me preocupo em jogar bem e ajudar o Liverpool a ir o mais longe possível na Premier League. Se for com gols, melhor ainda. Graças a Deus, os gols estão saindo. Se o título ficou difícil, vamos lutar para garantir o clube em mais uma Liga dos Campeões. Esse, sim, é um objetivo.
O Liverpool assimilou bem a perda do Coutinho, então é possível dizer que o time está jogando (ou pode jogar) ainda melhor sem ele?
Mudamos um pouco a forma de jogar depois da saída dele. Qual time no mundo, hoje, não gostaria de contar com um jogador da qualidade do Coutinho? Mas ele seguiu a vida dele e o Liverpool continua forte, como sempre foi.
O Philippe Coutinho está atrás apenas do Neymar como o melhor jogador brasileiro da atualidade?
Sou suspeito para falar sobre isso porque o Coutinho é um grande amigo que fiz no futebol. É outro que vive grande fase na carreira, é um grande jogador, tem muito talento e recursos, e vai fazer muito sucesso também no Barcelona, não tenho a menor dúvida. Tem tudo para ser um dos grandes nomes da seleção brasileira na Copa do Mundo.
Klopp recentemente te elogiou ao chamá-lo de atacante "a little annoying" (um pouco irritante, que incomoda os adversários). Gostou da definição?
É uma forma carinhosa de dizer que sou um atacante que incomoda, que não desiste das jogadas, que busca o gol a todo momento, que pressiona a saída de bola... O Klopp já me conhecia dos tempos em que eu jogava no futebol alemão. Quando chegou aqui, mudou o meu posicionamento e eu passei a render mais. Sou um jogador mais maduro graças a ele. Tenho aprendido demais com ele.
Você é o atacante de referência, mas o artilheiro do Liverpool na Premier League é o Salah. Em algum momento se sentiu pressionado por isso?
De forma alguma. Temos uma química muito boa aqui no Liverpool. Muitos falam da força do ataque do nosso trio, que ainda conta com o Mané, mas temos um elenco de muita qualidade e que proporciona essa ofensividade. Temos que pensar de forma coletiva. Quanto mais jogadores com faro de gol, melhor. Quem ganha com isso é o Liverpool.
Por que o Manchester City está um nível acima dos rivais no futebol inglês?
Eles têm uma equipe muito ofensiva, assim como a nossa. São os dois times que marcaram mais gols até aqui na Premier League. O City, hoje, é um time muito difícil de ser vencido, realmente. Ganharam 26 de 30 jogos e abriram uma vantagem muito grande na liderança. É um time leve, os jogadores também se movimentam bastante em campo. O City, assim como o Liverpool, tem a cara do seu treinador. O Guardiola realizou grandes embates com o Klopp no futebol alemão, já se conhecem bem.
Qual o melhor jogador em atividade na Inglaterra?
Temos grandes jogadores, fica até difícil apontar apenas um, visto que o futebol inglês é mais badalado hoje em dia, com muitas equipes qualificadas. Podemos falar nos artilheiros Salah e Kane. Temos também o Gabriel Jesus, De Bruyne e Gundogan no City, Pogba e Lukaku no United, Sissoko e Dembélé no Tottenham, Willian e Hazard no Chelsea, Ozil no Arsenal... Sem falar em Mané, Emre Can, Lovren e tantos bons jogadores que temos aqui no Liverpool. É um futebol de grandes craques. Praticamente todos esses que citei estarão na Copa. O nível é muito alto.
Tite recentemente confirmou você e mais 14 nomes na Copa do Mundo... Como encarou o "anúncio" antecipado?
Fiquei muito feliz quando soube. Ainda assim, não podemos achar que já estamos garantidos. O trabalho no clube precisa continuar, não podemos deixar o nível cair. Temos que nos manter bem fisicamente e tecnicamente. O Brasil é um celeiro de grandes jogadores e todos querem jogar uma Copa do Mundo. Ouvir isso do Tite foi muito bom, sempre foi um sonho e um objetivo disputar uma Copa, mas faz com que eu me dedique ainda mais a cada treino e a cada jogo para merecer estar na Rússia.
O Brasil é o grande favorito ao título da Copa do Mundo da Rússia?
O Brasil sempre será apontado como um dos favoritos numa Copa do Mundo por toda a sua história. É o país que mais conquistou títulos mundiais e o único a ter disputado todas as edições. Mas há pelo menos mais umas seis seleções que vão chegar muito fortes na Rússia. É um torneio curto e temos que estar no mais alto nível físico, técnico, tático e psicológico. Vamos tentar levar esse hexa para o Brasil.
Você, Neymar, Coutinho, Gabriel Jesus, Douglas Costa, Willian... Você, se estivesse no papel de adversário, teria medo do Brasil?
Realmente, analisando meus companheiros, são todos jogadores de muita qualidade, já consolidados no futebol europeu e vistos com muito respeito pelos adversários. O que é uma conquista nossa, fruto de muito trabalho. Quem ganha com isso é a seleção brasileira, que está muito bem servida.
Acredita que é um "jogador acima da média" ou até mesmo "craque"?
Deixo para os outros essa análise. Só procuro fazer muito bem feito aquilo que sempre me propus a fazer na vida, que é jogar futebol. Saí até cedo do Brasil, já estou na Europa desde 2011, primeiro na Alemanha e, agora, na Inglaterra, e as coisas têm dado certo. Espero seguir com saúde para continuar trilhando esse meu caminho por muitos anos ainda.
Acha que, depois de tantas críticas e desconfiança, enfim conseguiu cair nas graças da torcida e da imprensa brasileira?
Não encaro como crítica ou desconfiança. Seja pelo torcedor ou pela imprensa, todo jogador é cobrado quando não rende ou não vive um bom momento. É normal. Isso tem que servir como combustível, busco crescer em cima disso. De repente por eu ter saído muito cedo do Brasil, as pessoas não conheciam muito bem o meu futebol. Hoje, estou num grande clube europeu e a visibilidade é maior. Tenho conseguido jogar o meu melhor futebol. Só assim nos valorizamos.
Você foi acusado recentemente de racismo, mas a leitura labial provou o contrário. Como reagiu? Como encara a questão do preconceito?
Sempre fiquei tranquilo em relação a isso porque sabia que não tinha falado nada do que estavam me acusando. Já sofri preconceito racial e sei o quanto é doloroso. As pessoas precisam levar mais a sério esse assunto e se engajar nessa luta contra o racismo.