Um jogo psicológico. Além de toda a questão tática que envolve enfrentar um time com três zagueiros e linha defensiva composta por cinco homens à frente do goleiro, controlar a ansiedade será fundamental para a Seleção Brasileira no Mundial de 2018.
Porque o time de Tite joga com a bola, gosta de dominar a troca de passes e chega com facilidade à intermediária [ou ‘terço final’]. Mas, assim como acontece com outras boas equipes, também encontra dificuldades na hora de concluir as jogadas.
Foi assim contra a Inglaterra, no amistoso sem gols de novembro de 2017, e também no primeiro tempo contra a Rússia. A diferença reside na disparidade técnica entre ingleses, que têm jogadores melhores, e russos. Mas o roteiro esperado é basicamente o mesmo para a fase ofensiva da Seleção: troca de passes rápidos, avanço pelo meio e dificuldade diante da muralha defensiva do oponente.
Um cenário normal no futebol mundial: a briga é pelo espaço. E um duelo como Brasil vs Rússia coloca frente a frente extremos opostos nessa abordagem: os donos da casa se concentram em fechar, enquanto os comandados de Tite em criar estes espaços.
Rússia levou perigo no primeiro tempo
A armadilha está na hora em que se perde a bola, porque a Rússia e outros times que jogam um futebol reativo disparam em velocidade para aproveitarem todo o espaço que fica na defesa.
Foi desta forma que os russos levaram perigo, especialmente nos 45 minutos iniciais. E é o principal aspecto que o time de Tite precisa melhorar: tornar a recomposição defensiva mais rápida.
Por isso, é preciso controlar a ansiedade na hora de concluir a jogada. Rodar a bola entre a área irrita o atleta. O ímpeto para buscar resolver o lance de qualquer jeito é tentador, mas se não houver frieza o contragolpe pode ser perigoso. Acima de tudo, é preciso continuar tentando... mas sem perder o equilíbrio.
Especialmente no segundo tempo contra a Rússia, o Brasil conseguiu vencer este jogo psicológico. E destruiu a muralha russa.
Porque se tem qualidade no passe e drible, o Brasil também sabe construir jogadas de outras formas: foi na bola levantada na área que a Seleção deu o golpe que costuma destruir os esquemas ultradefensivos: o primeiro gol. De cabeça, com Miranda. Justamente um zagueiro, o que deixa o castigo ainda maior para os russos.
Tite escalou o Brasil com alternâncias entre o 4-1-4-1/4-3-3
Em busca do empate, o time adversário concede mais espaços. E contra um time como o Brasil, isso pode ser fatal. Nesta sexta-feira (23), foi exatamente assim: em menos de dez minutos após o primeiro gol, Coutinho, de pênalti, fez o segundo. E pouco depois Paulinho, mestre na ocupação de espaços, estufou as redes para marcar, de cabeça, o terceiro.
Contra o sistema de três zagueiros, que muito provavelmente vai ter que enfrentar no Grupo E contra Costa Rica e Sérvia, o time de Tite [que vinha obcecado por buscar soluções contra tal cenário] passou pela primeira vez no teste.
Mais um sinal de que tanto o trabalho quanto os jogadores são bons e merecem o favoritismo atribuído.