Camboja é um país asiático com pouquíssima tradição no futebol. Até hoja a equipe conseguiu poucos resultados bons no esporte, mas um brasileiro tenta mudar essa realidade: Leonardo Vitorino é técnico da Seleção cambojana e tem uma série de desafios a curto e longo prazo.
A curto prazo, Vitorino precisa se adaptar à culinária local. Em entrevista à 'Goal', ele relatou um episódio que sofreu por causa do excesso de pimenta nas comidas do Camboja. A longo prazo, os desafios são mais difíceis. Ele tem como meta vencer os Southeast Asian Games (SEA Games), um tipo de jogos olímpiacos do sudeste asiático, e sonha em se classificar para a Copa do Mundo de 2026.
Veja a conversa com o Leonardo em que ele aborda todos esses desafios:
Goal: Como é a estrutura do futebol do Camboja?
Leonardo Vitorino: O futebol do Camboja está abaixo de países como Coreia do Sul e Japão. Eles investiram no campo profissional, mas não na formação de novos jogadores. Só dois clubes possuem divisões de base que vão dos 7 aos 18 anos. Os outros clubes só têm jogadores a partir dos 15 anos. Então, quando o jogador chega na equipe, poucos chegam com qualidade e experiência internacional. A população ama a Seleção, todo jogo tem 40 mil pessoas em média, mas a liga local não tem esse apoio, não atrai a torcida.
Goal: Qual foi a maior surpresa que você teve quando chegou no Camboja?
Leonardo Vitorino: Fiquei chocado porque o nível técnico é muito baixo. A Seleção tinha muitos resultados negativos, perdia jogos de 6 ou 7 gols. Mas vim porque o projeto é a longo prazo. É rejuvenescer a Seleção e formar novos jogadores. Eles vão sediar os SEA Games em 2023 e querem ganhar.
Goal: Então seu desafio é ensinar o básico a esses novos jogadores?
Leonardo Vitorino: Sim. Sou treinador da Seleção profissional e da Seleção olimpica. A gente veio com essa ideia de trabalhar com jovens e desenvolver o futebol nos estados. Estive na Alemanha, aprendendo como era feito o desenvolvimento dos jogadores. Então criei um projeto para formar jogadores nos estados e também treinadores. O ideal é começar no futsal para trabalhar habilidade e capacidade motora. E também desenvolvi um planejamento técnico para treinadores das bases, para que sigam o mesmo método de treino da Seleção profissional, para que daqui a alguns anos os jogadores cheguem juntos e alinhados. Fizemos um encontro nacional de treinadores de cada clube para falar o que eles acompanham no dia a dia e entender como é o jogador local. Cada treinador passou o que pode ser feito na liga e está tentando ajustar pra desenvolver o melhor treinamento.
Você já treinou times no Catar, Tailândia e em Laos. Por isso não tem problemas para adaptação no Camboja?
Leonardo Vitorino: Em termos de adaptação o mais difícil é a comida, que tem muita pimenta. É diferente, não tem igual no Brasil. Eu fui comer fora, falaram que era só um um pouquinho de pimenta, mas o pouquinho era forte, pior que na Bahia. No restante é tranquilo. Não tem nada que interfira no trabalho de campo. No Catar tinha que respeitar o horário de reza, que era depois do aquecimento. Isso quebrava o aquecimento. Aqui não tem nada disso.
Goal: e o idioma? Como é sua comunicação com os jogadores?
Leonardo Vitorino: Meu intérprete fala inglês e eu tenho fluência em inglês. A maioria dos jogadores também fala inglês, então fica tranquilo. Eu também procuro entender algumas palavras no idioma deles (khmer).
Goal: você não tem vontade de treinar times no Brasil?
Leonardo Vitorino: Como brasileiro, sempre sonho com isso. No início desse ano tive sondagem de um time do Nordeste e de outro de Santa Catarina. Eram times grandes, mas não foi para frente, porque no Brasil algumas coisas são faladas de resultado imediato. Aqui você desenvolve projetos de longo prazo. O que vai me atrair um dia ao Brasil é justamente possibilidade trabalhar a longo prazo. Ter tempo para fazer uma pré-temporada. Não adianta tentar fazer milagre no meio do campeonato. Nas propostas que tive era tudo para ontem, para o jogo do próximo final de semana. Isso não me atrai tanto.
Goal: Quem vai ganhar a Copa do Mundo de 2018 e o que esperar das seleções asiáticas?
Leonardo Vitorino: Brasil é um dos favoritos, como em toda Copa. Possui alguns dos melhores jogadores da atualidade. A Alemanha também entra como favorita, com a renovação de jogadores. Aqui na Ásia vi o Irã vai fazer muitos bons jogos. Pode surpreender. O Japão também é um time organizado, mas o Irã tem um sistema defensivo muito forte. E na Copa, às vezes, você se fecha bem, faz um gol no contra-ataque e ganha.
Goal: e dá para sonhar com o Camboja na Copa de 2022?
Leonardo Vitorino: É um sonho. Mas como treinador, prefiro ser realista. Só dá para pensar em 2026, porque vão abrir mais vagas. Se a gente fizer um trabalho de qualidade a longo prazo, no futuro o Camboja pode chegar.
Goal: na eleição para o prêmio The Best, da Fifa, você votou em quem para melhor jogador do mundo?
Leonardo Vitorino: Meu voto foi para o Neymar porque ele ajudou muito o Brasil a se tornar o primeiro classificado para Copa do Mundo. E também por tudo que fez na LaLiga. Não fez tantos gols, mas o número de assistencias para o Barça se tornar vitorioso é muito grande. Chama atenção. Ele está se tornando completo. É um jogador de clube e de Seleção. O Cristiano Ronaldo tem sido esptacular, mas na Seleção falta um pouco mais. E o Messi é a mesma situação. Até terça-feira (10), não vinha repetindo as boas atuações do Barcelona na Argentina. Então fiz essa análise e vi o Neymar em um nível muito alto.