Por Luís Butti, de São Paulo
“Olha a chance. Olha a chance. Olha a chance agora….Danilo limpou, pé direito bateu, o toque de cabeça….”
Pronto. Foi assim que Galvão Bueno narrou o lance do gol naquele 16/12/2012. Mas, e se não fosse gol? Aí é que entra em cena a frase da coluna anterior.
“O Corinthians é uma maioria étnica”
Cara, se o Corinthians é uma maioria étnica, vai ser pra religião mesmo que eu vou apelar. Tudo quanto é coisa boa da mística eu boto uma fé. Tinha a certeza do título, mas estava nervoso. Tomava quarenta gotas de Rivotril para tentar dormir. O natural que tomo é 8 a 10.
Um coquetel de Clonazepam para acalmar a minha ansiedade. Como não fumo, e as unhas tinham todas ido embora em Toyota, manifestava a minha ansiedade nos batuques.
Liguei o Computador do Otávio e botei no YouTube. Logo o avisei:
- Diz pra Aline que hoje não tem Skype. Precisamos fazer o tira-zica.
N.R. Aline é a noiva do Otávio, que ficara no Brasil esperando umas três, quatro lives diárias.
E Otávio dizia:
- Cara, você tá louco. Calma.
Eu retrucava:
- Bicho, não discute. Dá o notebook.
Era música para orixá, para caboclo, pra Exu, pra Zé Pelintra, era batuque no último volume. Só não teve incenso porque não deu pra trazer. Nós íamos ser expulsos do Keio Plaza de tanta macumba.
Naquela noite e na manhã seguinte, acho que o Otávio nunca ouviu tanto tambor.
A nossa caravana iria sair 15 horas de Tokyo (3 da manhã para vocês no Brasil) para o Corinthians x Chelsea. Nada tiraria a minha concentração nos ingleses.
Bom, quase nada. Otávio me avisa que um amigo iria nos visitar. Um rapaz, que morava em Tokyo.
Até aí, tudo bem. O problema é que o rapaz era palmeirense.
Eu gelei.
- Otávio, pelo amor de Deus, tira esse cara daqui. Vai arruinar o nosso tira-zica. Porco hoje é mal agouro.
Otávio ria. E dizia para que eu relaxasse.
Almoçamos num McDonald’s rápido, o rapaz foi embora e fomos para Yokohama se encontrar com aquele mar de gente. Nada podia nos parar.
Tite sempre foi um cara, além de competente, também era iluminado. E eu contava com isso em campo. Com a áurea daquele elenco. Parte técnica e tática eu nem preciso falar.
E assim foi. Cássio fechou o gol, Guerrero subiu aos céus e o alívio de 40.000 corinthianos em Yokohama era dividido com a sensação de glória.
Yokohama era uma cidade tomada. Vencemos.
O tira-zica de nossa gente bronzeada tem poder, senhores. Desde a época de Pai Jaú e de Dona Elisa.
A maioria étnica venceu mais uma vez.
A Coluna Bando de Loucos deseja aos leitores um Feliz Natal!
Luís Butti é redator publicitário, compositor e corintiano das antigas. Adora música, polêmica e redes sociais. É a favor do mata-mata e vê na Arena Corinthians o seu "Jardim do Éden"...