O Rio de Janeiro se faz representado na Libertadores de 2018 com os dois clubes que foram campeões do certame, mas a verdade é que há tempos a situação do futebol carioca não era tão preocupante. Principalmente quando a análise é direcionada para três dos quatro gigantes do estado.
Flamengo e Vasco, que em 2017 terminaram o Brasileirão com os mesmos 56 pontos, nas respectivas sexta e sétima posições, estão classificados para a Libertadores. O Rubro-Negro garantiu vaga para a fase de grupos, enquanto o Cruzmaltino terá que disputar a fase pré da competição.
Mesmo assim, o Mais Querido ainda não anunciou grandes reforços e perdeu o treinador Reinaldo Rueda, que aceitou oferta da seleção chilena e abandonou a Gávea; pelo Gigante da Colina, a situação é ainda mais conturbada. Botafogo e Fluminense também sabem que terão um 2018 difícil. O que explica um cenário tão pessimista em um dos palcos mais tradicionais do futebol?
Não há dúvidas ao apontar qual time, dentre os quatro grandes, é favorito a ser o protagonista carioca da temporada. Com uma capacidade de arrecadação gigante, fruto de uma administração responsável com os seus gastos, o Flamengo é o único que inicia o ano sonhando com títulos.
Em 2018, o clube da Gávea prevê receitas na ordem de R$ 477 milhões, 75% a mais em relação ao Vasco e ainda muito mais na comparação com Botafogo e Fluminense. E a realidade atual do futebol é cruel: o dinheiro, na enorme maioria das vezes, é o que dita a montagem de um elenco cotado para a disputa das maiores glórias.
Mas nem tudo são flores para o Fla, que embora tenha sido um dos times que mais somaram vitórias em 2017 deixou um sabor amargo para seus torcedores. O time foi campeão carioca, mas perdeu as decisões mais importantes: foi vice da Copa do Brasil e Sul-Americana, em jogos decididos por alguns detalhes. Na Libertadores e Brasileirão, decepções frutos de erros pontuais em montagem de elenco... e da enorme expectativa carregada por um dos grupos mais valiosos do futebol brasileiro.
O gigantismo do Vasco da Gama está além de qualquer dúvidas, mas os últimos anos em São Januário foram repletos de vexames, rebaixamentos e dívidas. Por isso, ao ter alcançado a duras penas o acesso para a Série A de 2017 o Gigante da Colina começou a sua caminhada como um dos favoritos ao rebaixamento.
Para a felicidade do torcedor, não foi o que aconteceu. E no final do ano, a vaga na pré-Libertadores premiou o esforço dos jogadores e o bom trabalho do técnico Zé Ricardo. Por isso, a chance de participar do principal torneio do continente aparece como um oásis de felicidade em comparação com os últimos anos. Mas 2018 já começa com inúmeros alertas, sendo a crise política dentro de São Januário a pior delas.
Ainda sem saber se Julio Brant assume a cadeira principal, ou se Eurico Miranda se mantém, o planejamento que é para ser um dos mais bem resolvidos – por causa dos jogos pela Libertadores, no final de janeiro – se tornou um dos mais caóticos.
Alguns reforços vieram, mas Anderson Martins, catalizador em campo da reação no Campeonato Brasileiro, pediu a rescisão contratual e fechou rapidamente com o São Paulo. Motivo? Salários atrasados!
Também por salários atrasados, o Fluminense deve perder o meia Gustavo Scarpa, um dos maiores destaques das últimas temporadas. Pior do que isso: dispensou ídolos como Cavalieri e pilares, como o zagueiro Henrique. A diretoria tricolor inicia um processo de austeridade financeira, encontra dificuldades para contratar em meio a um mercado inflacionado e vê como grande salvação os jovens valores que chegam da base.
Ainda que tenha iniciado desde 2015 uma administração de grande contenção de gastos, o Botafogo também monta o seu elenco sem praticamente nenhum recurso financeiro. A fórmula é a mesma dos últimos anos, mas com o agravamento da perda na vaga da Libertadores através do Brasileirão.
Destaques, como o meio-campista Bruno Silva e o treinador Jair Ventura, deixaram o clube e os reforços não animam o torcedor. Aposta da diretoria, Felipe Conceição, novo comandante, é uma incógnita e vem com a missão de integrar jovens da base com os atletas mais experiente. Certeza, apenas uma: dificuldades ao longo da temporada.
Com poderio financeiro e um dos melhores elencos do país, o Flamengo é refém da expectativa que ele próprio gera. Já os seus rivais, gigantes do futebol brasileiro, sofrem com o legado de administrações irresponsáveis.
De qualquer forma, as posições dos gigantes cariocas no campeonato de maiores dívidas do futebol brasileiro ajudam a explicar: o Botafogo lidera, o Fluminense vem em terceiro e vê Flamengo e Vasco logo atrás. Por isso, antes de aparecer alguma solução é preciso resistir à tempestade.