É curioso, mas se você fizer duas perguntas com focos totalmente diferentes, em Chapecó elas terão a mesma resposta.
Está com fome na Arena Condá antes, durante ou após um jogo da Chape ou andando com o estômago roncando pelas ruas da cidade em uma noite tranquila e quer comer o melhor lanche do município? A resposta será: "vai no Janga".
Quer saber qual é um dos maiores jogadores da história do clube, um dos primeiros ídolos e o primeiro grande meio-campista? A resposta também é Janga.
Não à toa, todos os moradores da cidade de pouco mais de 200 mil habitantes conhecem Jandir Moreira dos Santos, o Janga.
Ex-meio-campista, o eterno craque da Chape chegou ao clube em 1976, depois de cinco temporadas no Lajeadense, do Rio Grande do Sul, para nunca mais sair e entrar na história.
Gravado na eternidade como um dos maiores jogadores da Chapecoense em todos os tempos, Janga defendeu as cores do Verdão do Oeste durante dez temporadas e foi uma das estrelas do primeiro título da história do clube: o Campeonato Catarinense de 1977. Um grande feito para a equipe, que tinha sido fundada apenas quatro anos antes.
Não à toa, para o ex-jogador, o título estadual de 1977 é a sua grande história no futebol. "Eu ganhei a Taça Santa Catarina em 1979 e joguei o Brasileirão em 1978, mas a minha grande história no futebol é o Estadual de 1977. Foi o primeiro título da história da Chape, e logo no meu primeiro ano no clube. Eu cheguei em 1976 e fiquei até 1986, quando me aposentei", conta, em entrevista exclusiva à 'Goal Brasil' em frente ao seu food truck.
Você não entendeu errado, em frente ao seu food truck mesmo. Lembra da primeira pergunta do texto?
Após se aposentar do futebol na Chape, Janga quis continuar em Chapecó. Na época, o Verdão não era admirado no Brasil e no mundo como um exemplo de gestão e pelos grandes feitos em campo, brilhando na elite nacional, dominando Santa Catarina e fazendo histórias campanhas na América Latina. Atuando por uma equipe modesta, pouco conhecida fora de seu estado e sem grandes salários, principalmente na realidade do futebol nos anos 1970 e 1980, o ex-meio-campista não pode virar um grande empresário ou viver da renda que acumulou durante a carreira.
Mas não que isso seja um demérito, muito pelo contrário. Janga continuou seu enorme legado em Chapecó e seguiu dando alegrias ao povo da cidade de outra forma. Agora não só na Arena Condá nos jogos da Chape, mas também na principal avenida do município, a Getúlio Vargas.
"Depois que eu parei de jogar, eu continuei morando em Chapecó. Quando eu jogava, eu casei com uma mulher daqui de Chapecó, fiz minha família toda aqui, vários amigos e resolvi continuar em Chapecó após me aposentar. Moro aqui há 40 anos e não pretendo me mudar. Tenho uma filha morando em Florianópolis e ela vive me pedindo para ir morar com ela na capital, mas eu sempre recuso. Não quero sair daqui", diz.
"Após parar de jogar, eu fui trabalhar no Frigorífico Chapecó, que tinha o atual presidente (Plínio David de Nês Filho) como dono. Trabalhei dez anos lá e depois fui para o ramo de cachorro quente, onde estou há 20 anos", afirma.
E realmente, o senhor de 62 anos, de sorriso fácil e alto astral, não tem motivos para sair de Chapecó. Durante a entrevista, várias pessoas param para cumprimentar um dos maiores ídolos da história e dono de um dos lances mais famosos da cidade. Muito alegre, Janga brinca com todos e, obviamente, é muito feliz no Oeste catarinense e adora falar sobre a Chape. No entanto, não apenas pela relação com o clube e o município, mas também por um motivo especial, ele sentiu muito a tragédia que levou vários de seus amigos e não gosta muito de tocar no assunto.
"Esse van onde eu vendo cachorro quente me foi dada pela diretoria que se foi, encabeçada pelo Sandro (Pallaoro, ex-presidente). Eles me ajudaram. Ainda sinto muita falta dos amigos que se foram e sempre vou sentir. No começo foi muito complicado", se emociona.
No entanto, apesar de toda a dor, Janga, a Chape e Chapecó seguem em frente. "Quando aconteceu a tragédia, a cidade parou. Todos ficaram pensando em como conseguiríamos reconstruir o clube. Mas o povo foi forte e todos conseguimos. Para um time que não tinha nem roupeiro, ser campeão estadual seis meses depois foi um feito incrível e emocionante. Nós vamos ficar na Série A e disputar torneios continentais de novo em 2018. Falar o que da Chape? Não tem nem o que falar, temos sempre que apoiar e ajudar a Chape", completa.
"Chapecó é uma cidade pequena, de pouco mais de 200 mil habitantes, do interior de Santa Catarina. E o povo gosta da Chape. Aqui, no domingo, não tem nada para fazer. Não tem praia nem nada. O que tem para fazer é ir ver a Chape. Então a torcida vai sempre ao estádio. Chapecó vive a Chapecoense e abraça e ama o clube. Nunca vamos nos esquecer dos amigos que se foram. Dói, mas a vida tem que continuar e está continuando, temos que seguir em frente. Por isso a Chapecoense continua brilhando. Pelo povo, pela cidade e pelos que se foram", conclui.