O Bernabéu sabe das coisas. Exageros à parte, nunca reclama sem motivo. Paga, e caro, por ver boas exibições do melhor time do mundo. Quando a equipe não corresponde às expectativas, nada mais justo do que as vaias. O mesmo vale para o desempenho individual dos atletas. No caso, Danilo, Cristiano Ronaldo e Benzema têm sido os mais criticados pela torcida. Repito, nunca sem razão. Até ensaiou-se uma campanha de vitimização. Que clube e elenco não entendiam o porquê da falta de apoio diante das vitórias recentes, com o técnico dizendo inclusive "parece que estamos lutando contra o rebaixamento", ao abordar o assunto.
Pois bem, o fato é que o nível de jogo vinha sendo insatisfatório mesmo durante a série invicta, mas os resultados maquiavam a situação. Resulta que diante de uma sequência negativa, a torcida já chiou. Uma pressão como não há igual, cobrança o tempo inteiro. Perder não é uma opção e, muitas vezes, ganhar jogando mal já basta para que as vaias ecoem. O madridismo é assim desde que o mundo é mundo e não mudará. Afinal, trata-se do clube mais vitorioso da história do futebol. Para quem quiser sombra e água fresca, a porta é serventia da casa.
Parece que atletas, comissão técnica e diretoria finalmente entenderam que a única forma de silenciar a desaprovação de seu próprio público era oferecer um bom espetáculo. Assim foi feito. Nada empolgante, mas, pelo menos, bastante superior às últimas exibições. Claro que havia uma pedra no meio do caminho. A Real Sociedad faz belíssimo campeonato, brigando por vaga na Champions. Até fazer o primeiro gol, o Madrid teve dificuldades para criar chances. Kroos inoperante e a dupla de ataque — CR e Benzema — errando tudo. Kovacić era o mais ativo ofensivamente, mas jogava praticamente sozinho. Tudo isso a despeito de uma boa atuação defensiva, diga-se. O time esteve mais firme e bem postado em seu próprio campo do que em outras recentes ocasiões. O gol reverteu a dinâmica negativa de Ronaldo na partida e premiou o bom trabalho de Kovacić, o melhor em campo. Foi do português a bela assistência para que o croata, em infiltração, saísse na cara do goleiro para abrir o placar. Depois disso, o jogo se tornou mais franco. No segundo tempo, inverteram-se os papéis. Kovacić deu o passe para Cristiano marcar. Mais para o final, Morata ainda marcaria o terceiro, culminando um contra-ataque de manual.
A má nota da partida ficou por conta de Cristiano Ronaldo. No primeiro tempo, quando as coisas ainda iam mal, a torcida o vaiou após alguns erros consecutivos. Egocêntrico e vaidoso que só ele, o português reagiu dirigindo xingamentos impublicáveis às arquibancadas. Preciso mesmo dizer que insultar o maior patrimônio do clube — a saber, a torcida — está absolutamente errado?
Até porque, convenhamos, as críticas são justíssimas. Ele não acertou nada até o lance do gol. Em jogos anteriores, teve atuações muito abaixo da crítica. Contra o Sevilla, apenas Penaldo esteve em campo. Diante do Málaga, perdeu um caminhão de gols. Em Vigo, acertou uma bela cobrança de falta, mas antes perdeu uma chance sem goleiro e, desconsiderando esses dois lances, nada fez na partida. O fato é que CR, quando desprovido de efetividade, de gol, deixa de valer a pena, porque sua contribuição para o funcionamento coletivo do time é quase sempre muito pequena.
Outro dos cobrados pelo Bernabéu, Danilo foi bem. Não comprometeu na defesa, foi preciso nos desarmes. No ataque, passou a impressão de estar um pouco mais calmo, escolhendo melhor o que fazer com a bola. Inclusive, participou bem na jogada do terceiro gol. O único dos criticados que não "respondeu" foi Benzema, que acumulou mais uma atuação fraca. Ainda assim, saiu bastante aplaudido. O jogo estava ganho e a torcida, mais calma, resolveu apoiar o seu camisa 9.
Ainda assim, talvez seja hora de dar à Morata uma sequência no time titular. Não que o jovem viva uma fase esplêndida, destacadamente melhor que a do concorrente. Mas ele consegue ser mais intenso fisicamente no momento e, mesmo na reserva, tem números melhores que os de Karim na temporada. Além disso, essa medida faria a poeira baixar um pouco e o francês teria mais tranquilidade para recuperar seu futebol aos poucos.