Guilherme Arana nem sequer começou a treinar no Sevilla, mas já se sente em casa na Espanha. Sempre teve um carinho especial pelo "dinâmico" futebol espanhol, tendo visto a confiança aumentar por conversar com os dirigentes do novo clube desde o meio do ano, e até está preparado para, se necessário, dar um "chega para lá" em Lionel Messi e Cristiano Ronaldo.
Em entrevista exclusiva ao 'Blog Ora Bolas', o lateral-esquerdo de 20 anos admitiu ter segurança no sucesso na Europa, relembrou o momento mais delicado da curta carreira, quando foi emprestado ao Atlético-PR em 2015 e contou com o apoio da família para não perder o foco, e também destacou as duas vitórias do Corinthians em cima do arquirrival Palmeiras no Brasileirão deste ano - a primeira rendeu uma famosa e inesperada gargalhada, enquanto a segunda serviu de "chacoalhão" rumo ao heptacampeonato nacional.
É canhoto com o pé, mas notei que assinou contrato com o Sevilla (válido até 2022) usando a mão direita...
[Risos] Muita gente percebe e me pergunta sobre isso, e isso acontece desde os tempos da escola. Sou canhoto com o pé e destro com a mão. Não sei explicar, acho que é mesmo um dom que Deus me deu.
Já tentou passar a jogar com o pé direito também?
Sinto dificuldade de jogar com o pé direito. Acredito que um canhoto chutando com o pé direito tem mais dificuldade do que um destro chutando com o pé esquerdo.
Sempre deixou muito claro o desejo de jogar no futebol espanhol. Por que especificamente a Espanha?
Tem um jogo dinâmico e de muita habilidade, sempre me identifiquei com o futebol espanhol. Na Inglaterra, por exemplo, é mais força física.
O Sevilla tem um histórico recente de sucesso com laterais brasileiros: Dani Alves e Adriano. Sente que a cobrança será maior por causa das eventuais comparações?
A cobrança será muito grande, com certeza. Dani Alves e Adriano são jogadores de alto nível e fizeram sucesso no clube. Estou tranquilo, importante mesmo é ter a cabeça no lugar e trabalhar firme para que as coisas aconteçam da melhor maneira possível.
A imprensa espanhola recentemente te comparou ao Marcelo, mas, a meu ver, vocês têm características diferentes...
Somos totalmente diferentes mesmo. O Marcelo com a bola nos pés faz coisas de outro mundo, é muito habilidoso. Meu jogo é mais de combinação, sou mais de explosão. Às vezes no um contra um até tento fazer um lance de mais efeito, porque todos gostam de ver isso num jogador.
O que o futebol espanhol pode te dar que você ainda não tem ou precisar aprimorar?
Tenho melhorado muito na marcação, tive uma evolução muito grande em 2015 e em 2017 posso dizer até que foi brilhante. Agora, no Sevilla, espero aperfeiçoar ainda mais essa parte, porque na parte ofensiva tenho total confiança em mim. Vou me sair muito bem no Sevilla.
Também chegou a ser alvo do Barcelona nos últimos meses. Bateu um frio na barriga com o interesse?
Pô, você joga com os caras no videogame e aí aparece isso [sondagem]... Qualquer um fica ansioso. Foi uma grande escolha acertar com o Sevilla, com quem havia iniciado conversas no meio do ano. Sempre me passaram muita confiança, o que foi muito importante no processo da negociação. Assinei contrato e rapidamente me senti em casa no Sevilla, todos me trataram muito bem. A adaptação será muito fácil.
Pronto para, se preciso, dar uma chegada mais forte no Messi, no Cristiano Ronaldo...?
Dentro de campo vou sempre defender a minha camisa. Se for necessário dar uma chegada mais forte, é claro que vou dar. Isso, é óbvio, numa disputa sadia e sem maldade.
Chegou a ser emprestado para o Atlético-PR em 2015, conviveu um tempo com a reserva no Corinthians... Temeu que a sua carreira pudesse não atingir o sucesso atual?
Sim. Quando subimos da base, queremos ter oportunidades. Eu, quando fui promovido ao time principal do Corinthians, notei que seria muito difícil ser aproveitado,porque o time tinha dois bons laterais [Fábio Santos e Uendel]. Fui emprestado para o Atlético-PR, e acabei por chegar um pouco desmotivado. Não é fácil você trocar o maior do clube do Brasil pelo Atlético-PR, mas isso, claro, sem desmerecer o clube paranaense. É fato que a diferença é muito grande. Pensei que o meu futuro pudesse ter contornos diferentes, mas tenho uma família muito bem estruturada e que sempre me apoiou. Com os pés no chão, segui trabalhando e logo retornei ao Corinthians. Daí em diante as coisas começaram a melhorar.
Precisou em algum momento da curta carreira se impor ou receber ajuda da família para não cair nas tentações da fama?
É natural ter algum tipo de desvio quando você ainda é jovem. Mas, como falei anteriormente, tenho uma família estruturada e que sempre me apoiou. Felizmente, sempre estive no caminho certo, por isso as coisas têm acontecido rapidamente na minha vida.
Houve algum tipo de chacoalhão dentro do Corinthians na reta final do Brasileirão?
O nosso primeiro turno foi brilhante, mas no segundo tivemos uma caída. O Palmeiras encostou, a imprensa todinha começou a falar muito... A pressão foi muito grande em cima do nosso grupo. A reviravolta aconteceui diante do próprio Palmeiras, dentro da nossa casa, com uma vitória fundamental [3 a 2, no dia 5 de novembro]. Ali demos um salto enorme e retomamos a moral.
O Palmeiras também te proporcionou outro grande momento no ano. No primeiro turno, fez um gol na vitória por 2 a 0 e comemorou com uma risada. Aquele riso foi natural ou planejado?
Surgiu na hora mesmo, foi para tirar um sarro. Clássico de torcida única, né? Só tinha palmeirense no estádio, então resolvi fazer uma brincadeira. A comemoração ficou famosa porque o estádio estava calado e conseguiram flagrar bem a minha risada. Foi muito legal [risos].
Fábio Carille pode vir a ser mais importante que o Tite no Corinthians?
O Tite é ídolo, vai ficar marcado para sempre na história do clube. Tive o prazer de trabalhar com ele, é uma pessoa sensacional, dentro e fora de campo. O Carille sempre seguiu os passos do Tite, eles têm o mesmo tipo de trabalho, de conversa...
Fechava os olhos conseguia confundir o Carille com o Tite?
[Risos] É isso. Era muito igual, o mesmo tipo de treinamento, de cobrança... Tenho certeza que o Carille será um dos maiores treinadores do Brasil. É estudioso, não se acomoda e tem totais condições de conquistar o Brasil e o mundo.
Teve uma conversa especial com o Carille na hora da despedida?
No meu último jogo [contra o Atlético-MG, na Arena Corinthians], ele foi conversar comigo e disse na frente de todos: "Que Deus te abençoe. Você merece tudo de bom por ser um grande trabalhador". Ele também é uma pessoa sensacional, na mesma linha do Tite.