Por João Henrique Castro
Enquanto eu pensava neste texto, a cada novo instante um atual funcionário do Cruzeiro anunciava que estava colocando seu cargo à disposição ou que deixaria o clube no final da temporada 2017.
A situação é tão bizarra que nem parece que a chapa de situação venceu as eleições presidenciais disputadas na última segunda-feira. Menos ainda que a equipe cinco estrelas acabou de conquistar a Copa do Brasil e de se classificar para a decisão do Campeonato Brasileiro Sub-20, mesmo tendo perdido Arthur, Murilo, Nonoca e Raniel para o time profissional ao longo da temporada.
Qualquer pessoa razoável defenderia a continuidade de um projeto de clube que mostrou-se bem sucedido, em campo e fora dele, durante o ano. Foi esta razão, inclusive, que levou a maioria do conselho a votar em Wagner Pires, candidato que trazia o compromisso de dar continuidade à atual diretoria cinco estrelas.
Bastou o resultado da eleição ser divulgado, contudo, que uma verdadeira debandada na diretoria teve início. A começar pelo vice de futebol Bruno Vicintin que rapidamente anunciou sua saída ao final do mandato de Gilvan.
Wagner havia dito pouco antes que "time que está ganhando não se mexe" e sinalizado que se esforçaria para não perder os diretores do futebol, mas a sua decisão intransigente de incluir Itair Machado na diretoria fez com que os projetos se tornassem inconciliáveis.
Não vou nem entrar no mérito de Itair para exercer a função ou não. Deixo para o leitor fazer o seu juízo, avaliando o período do dirigente no comando do Ipatinga e, posteriormente, no Betim. Também não tratarei de sua proximidade com Zezé Perrella, apoiador da chapa derrotada e que almeja o comando do conselho. Não é necessário. Cabe aqui apenas destacar o caráter autoritário de Wagner na gestão da diretoria sem nem ainda ter assumido o mandato.
Na sequência dos fatos, o presidente Gilvan também rompeu com seu sucessor. Tinga, em nome dos seus princípios, também anunciou que deixará o clube. Na base, Antônio Assunção e Eduardo Freeland, contratação recente do departamento e um dos mais valorizados do país, devem seguir o mesmo caminho. Além disso, a renovação de Mano Menezes parece ser cada vez mais distante.
Em nome de um projeto não claro, Wagner Pires está destruindo um projeto e minando a continuidade de uma estrutura que vinha funcionando de forma satisfatória no clube. O caráter desta ação é preocupante, haja vista que revela pouca propensão ao diálogo e um perfil centralizador do novo mandatário.
Perde o Cruzeiro, pois venceu a oposição! Inclusive ao clube!
João Henrique Castro é professor, historiador e, obviamente, cruzeirense. Daqueles que sabe que nada brilha mais no céu do que as cinco estrelas que traz no peito.