Além das passagens vitoriosas por Internacional e Cruzeiro, Ceará também viveu um período marcante no Paris Saint-Germain. Foram cinco temporadas na equipe francesa, onde o lateral viveu o período anterior ao enorme investimento dos árabes comandados por Nasser Al-Khelaifi no clube e também o início da nova era.
O jogador, porém, deixou o PSG antes da marcante chegada de Zlatan Ibrahimovic, que transformou o time, mudando seu patamar, fazendo do clube o mais poderoso da França, dominando o país nos últimos anos e também fazendo boas campanhas na Champions League.
Ceará lamenta o fato de ter saído do PSG pouco antes do momento mais glorioso da história do clube para voltar ao Brasil e defender o Cruzeiro, mas também celebra os cinco ótimos anos que viveu em Paris. Ele enfrentou grandes jogadores e colecionou boas histórias.
Na segunda parte da entrevista exclusiva à 'Goal Brasil', Ceará relembra sua passagem pelo PSG, conta bastidores do clube e comenta o investimento árabe e as mudanças causadas no futebol mundial, além de dar sua opinião sobre Neymar. Confira:
Falando sobre o PSG agora... Depois da passagem gloriosa pelo Inter, você foi para o PSG e teve uma boa passagem e conquistou títulos por lá, mas acabou saindo antes de chegar o caminhão de dinheiro por lá...
"(Risos) Cara, eu tenho esse gostinho do quero mais até hoje. Eu queria ter permanecido mais tempo e ter aproveitado esse novo momento do clube, mas sou muito grato pelas cinco temporadas que tive. Sou o quinto brasileiro, entre os 31 que defenderam o PSG, que mais vezes vestiu a camisa do clube. Conquistei duas copas lá (Copa da França e Copa da Liga) e disputei quatro finais."
"No último ano eu lamentei muito porque a gente podia ter sido campeão francês, mas perdemos o título para o Montpellier, que é um time pequeno, por uma diferença de um jogo só, e foi uma lamentação gigantesca. E no intervalo do primeiro para o segundo turno, no meio da temporada, em janeiro, na pausa de fim de ano, o Leonardo (então dirigente do PSG) mudou o treinador, tirando o Antoine Kombouaré e levando o Carlo Ancelotti, e eu acho que essa mudança não fez tão bem para o clube e para os jogadores, e talvez isso tenha implicado na perda do título."
Você saiu antes da chegada do Ibra e de outros grandes jogadores no clube, mas teve algum jogador do PSG ou outra equipe da Ligue 1 que te impressionou?
"Eu joguei contra o Benzema e o Hazard, jogadores que me deram muito trabalho (risos). Enfrentei o Ben Arfa também, na época que ele jogava no Lyon junto com o Benzema. Eram jogadores bons, de times bons e difíceis de serem marcados. O Juninho Pernambucano, nessa época, era o rei no Lyon, tinha também o Fred, que hoje joga no Atlético-MG, o Michel Bastos também... E na França é complicado porque tem muitos africanos ou descendentes, então o jogo é muito rápido, os caras dão o tapa na frente e é quase impossível de pegar, você tem que colar nos caras, se não só vai pegar de moto táxi (risos).
"Foram cinco anos maravilhosos na França. E tinha um menino que jogava comigo no PSG, o Jérémy Ménez (hoje no Antalyaspor, ex-Monaco, PSG, Roma e Milan), que era muito talentoso, um grande jogador, mas infelizmente preguiçoso e não se entregava. O Javier Pastore, que ainda está no clube, eu fiquei por um ano com ele, e era muito talentoso também, joga muito, e o Thiago Motta, pra mim, é dos melhores volantes do mundo. Também joguei com Makélélé, Ludovic Giuly e Coupet, que eram feras e grandes jogadores."
No final da sua passagem, o PSG já começa a investir forte em reforços, mas não de forma tão pesada quanto nos últimos anos, com estrelas como Ibrahimovic e Neymar. Como você vê esse novo momento do clube? Você acha que isso faz bem para o futebol?
"Eu acho que esse novo momento do PSG é bom para o mundo da bola. Não só para os jogadores e os dirigentes, mas todos, porque acaba valorizando o meio e puxando outros clubes e investidores para entrar no futebol e valorizar essa paixão mundial. O futebol é visto e admirado pelo mundo todo. E o talento está cada vez mais raro, então o talento custa cada vez mais caro, então para se comprar e manter talentos como os melhores do mundo, que estão no topo da pirâmide, é preciso ter dinheiro, porque custa caro mesmo."
"E eu acho que isso é benéfico e a chegada dos árabes no PSG também, porque acho que todos são valorizados com isso e isso é melhor para o jogador que, em uma carreira curta, ganha mais oportunidades de ganhar mais dinheiro."
Como você avalia a decisão do Neymar de ir para o PSG?
"Eu acredito que o jogador tem que ter sempre novos objetivos e alvos para estar sempre motivado e buscando coisas novas na sua carreira e na sua trajetória. E existe outro ponto. Muitas vezes, o clube não respeita o atleta e o vê como uma mercadoria, e se ele achar que o atleta não está mais trazendo o retorno que ele gostaria, ele negocia o atleta muitas vezes sem ouvir a opinião do atleta."
"Então, por qual motivo o atleta não pode ouvir outro clube e escolher ir para outro clube? Eu acho que os direitos são iguais tanto do atleta quanto do clube. Se o Neymar decidiu ir para um novo clube, a gente deve apoiar a decisão do cara. Ele tem seus motivos para isso. Pode ser uma decisão financeira? Pode, mas eu não acredito que seja exclusivamente financeira. Ele tem objetivos de conquistar um título da Champions com o PSG e marcar história no clube."
"No Barcelona ele poderia conquistar cinco, dez títulos da Champions mas não ter o mesmo gosto, porque é um clube vencedor e acostumado a vencer, e quando você ganha com um clube que não tem esse histórico, você fica muito marcado como o grande cara. Talvez esse tenha sido um dos motivos que o levaram ao PSG, e eu torço para que ele consiga isso, porque é o time europeu que eu mais admiro e está no meu coração. Em dezembro eu espero ir à França, ver um jogo, prestigiar o clube de perto e rever os amigos."
Você acha que o Neymar pode ser o melhor do mundo e ganhar a Champions com o PSG já nesta temporada ou em breve, ou acha que é um processo mais demorado?
"Para ser o melhor do mundo, é preciso ter conquistas relevantes na temporada. Para conseguir o prêmio, ele vai precisar bater o Cristiano Ronaldo no Real Madrid e o Messi no Barcelona. O coletivo empurra o individual para o prêmio de melhor do mundo. Se o Neymar conseguir conquistar a Champions e a Ligue 1 e fizer uma boa Copa, isso vai ajudá-lo muito a ser o melhor do mundo, mas eu acho precoce dizer que ele será o melhor do mundo no próximo ano, porque o Messi e o Cristiano ainda estão em alto nível, são dedicados e têm um coletivo que podem ajudá-los a permanecer no topo ainda."
"A gente tem que tirar o chapéu para esses caras, porque além de serem gênios, eles querem e trabalham para continuar sempre no topo. A gente já viu jogadores talentosos que poderiam estar ali por muito tempo, mas não continuaram, como o Ronaldinho, que poderia ter ficado entre os melhores por mais dois ou três anos após ganhar os dois prêmios seguidos, mas é a questão do comprometimento que nem todos têm, mas o Messi e o Cristiano, além do talento natural que possuem, ainda possuem esse comprometimento."