Fazia frio. Muito frio.
Eu pegava o meu ônibus, do Keio Plaza em Tokyo, rumo à Toyota. Toyota ficava cerca de umas cinco horas de Tokyo. A caravana, era como foi toda a viagem, lotada. Eu sentia um pouco de medo daquele jogo traiçoeiro contra o Al Ahly, principalmente quando a gente lembrava do Mazembe contra o Internacional dois anos antes.
Não dava para ver o fim da fila de ônibus, cara. Perguntava para o Otávio, meu parceiro de excursão:
- Otávio, quantos são ?
- Não sei, Butti. Não dá para contar.
Não me recordo o número do ônibus, salvo engano era o 5. Partimos. No caminho, muitas histórias pessoais de corinthianismo. Me recordo de uma frase que havia ouvido no dia anterior
num passeio para Odaiba.
N.R. Odaiba é um bairro futurista em Tokyo, que lembra o game F-Zero (lembram ?). Em Odaiba, se localiza a Sede da Fuji TV, aquela do GP de Suzuka, nas históricas vitórias de Ayrton Senna.
“O Corinthians é uma maioria étnica”.
Não sei quem foi o autor. Ouvi no ônibus. Mas achei muito impactante e a trago comigo até os dias atuais. E de fato era. Havia de tudo na Fiel ali no Japão. Otávio dormia. Lembro que ele perdeu a gigantesca fábrica da Kirin japonesa. Mas gigantesco ali naquela tarde/noite era o Corinthians e nada podia dar errado.
Bom, quase nada.
Paramos num desses Frango Assado da vida, só que japonês, evidentemente. Uma das raríssimas opções era o inglês fish and chips, com alguns frangos junto com as batatas. Não sou fã de frango e de peixe. Logo, fiquei com as batatas e o Otávio com os frangos.
Seguimos viagem. Chegamos em Toyota num frio de assustar e num oceano em preto e branco em direção ao Toyota Stadium. Era tudo nosso.
O Toyota Stadium ficou fora da Copa de 2002 na última hora, por problemas políticos e interesses. É um estádio interessante, que lembra mais um ginásio do que um estádio. Eu não sei explicar, mas era mais ou menos isso. Na mesma Toyota, dias antes, nevou de verdade. E havia o temor de nevar durante o jogo do Corinthians.
Entrei. Otávio ficou para encontrar amigos. Sabe Deus o que aconteceu, ficamos separados mesmo com ingressos um do lado do outro.
O medo, o pavor de uma eliminação precoce era dissipado com um cruzamento magistral de Douglas, e o gol de Paolo. Tite era frio demais para cair no Al Ahly. Tinha as cartas na manga.
Apito final. Vencemos.
Não havia mais frio ou egípcios.
Havia sim, a certeza que o Corinthians seria Bicampeão do Mundo. E assim foi até o dia 16.
Text por Luís Butti